sexta-feira, 13 de maio de 2011

Torcer assim é fácil, né ?


            Esse texto tem tudo para ser engraçado para você, leitor, que tem um time regional, ou nacional, e sempre acha a coisa mais ridícula torcer para um time de outro país, e até continente. Tem tudo, e deve ser. O único sem graça aqui vai ser quem escreve, porque, afinal de contas, explicar como se torce sem ver o time é difícil, e, mais ainda, como se torce APENAS para um clube que está a milhares de quilômetros de distância, é a melhor das comédias.

            Não sei exatamente por onde começar sem ser muito pessoal. Pois bem, quando a perguntinha maldita (qual seu time ?) surge, tenho duas opções básicas que dependem do meu humor e da cara da pessoa que pergunta. Num dia bom, e se a pessoa aparentar ter o mínimo de cultura que seja, a explicação é rápida, assim como a risada e a seguinte frase: "Tá, mas eu tô falando aqui no Rio de Janeiro. Lá de fora não conta.". Ótimo, a pessoa já conseguiu tirar o meu bom humor. Então, vem a explicação complementar da minha paixão, da surpresa, no meu caso, de ver o mesmo zagueiro que marcou Romário no Mundial de 1994 ainda jogando e levantando, aos 39 anos, sua 5ª UCL pelo mesmo clube, o qual jogou todos os 30 anos de sua carreira, assim como o outro zagueiro no mesmo Mundial. A segunda risada e o desdém são imediatos. Isso já me irritou muito, agora nem tanto.

          Afirmações como "ah, é fácil torcer pra time que está longe", "é fácil torcer para time grande", "só torce porque ganhar título todo ano e tem os jogadores do PES" ou a clássica "você é muito esnobe. Acha que o Brasil está todo errado e que o certo é só na Europa" são as mais corriqueiras. Teve ainda um ótimo texto do jornalista Flávio Gomes, que admiro muito, comentando sobre o atual futebol moderno e a torcida de sofá, com seu ar condicionado, TV HD e falta de noção de realidade. Para ele, o futebol de verdade está no cimento gelado dos estádios antigos, dos times pequenos. Entendo tudo que é dito, e tenho sempre respostas simples, que não se podem refutar, por mais que sejam engraçadas e sem sentido para você, torcedor.


         Não é fácil torcer para time que está longe, pois, acredite ou não, temos o mesmo amor, a mesma vontade de gritar e xingar, mas nunca, ou quase nunca, poder ver a camisa que você tanto ama, o escudo que você beija, de perto, é tão cruel quanto, por exemplo, o torcedor do Flamengo que mora no Ceará, ou no Amazonas, Roraima. Assim como nós, torcedores "estrangeiros", eles não têm a chance de ver seus times ao vivo sempre, só pela televisão. Um outro ponto é que, no meu caso, não é fácil ter novidades e declarações de jogadores e dirigentes, como se tem aqui por todos lados, atualizadas e em português. Assim, a dificuldade o faz aprender o idioma do país do clube que você torce. Eu não tenho como comprar jornais ou revistas oficiais, ou não oficiais, tenho de pesquisar e exercitar o italiano e o inglês, coisa que você, torcedor nacional não precisa fazer, e ainda bem.

Monica Bellucci (imagem ilustrativa da teoria abaixo)
         Um boa comparação que eu faço, e sempre abre a mente de quem escuta é que, oras, assim como clubes de futebol, temos mulheres brasileiras e mulheres estrangeiras. No final, são todas mulheres. Agora, o fato de termos mulheres no Brasil me impede de me apaixonar e me casar com alguma estrangeira ? Claro que não. Somos, torcedores estrangeiros, minoria, mas ainda assim, a comparação é válida por demais.


          Time é time, e você pode ter simpatia por outro, mas torce apenas para um. Essa concepção é antiquada, mas é a minha concepção. E time estrangeiro conta sim, e muito. O argumento de ser clube grande e ter jogadores de video game é interessante, mas também furado. Vejam, por exemplo, que o Milan conquistou seu 18º Scudetto essa temporada, depois de 7 anos sem conquistar a Itália. O último título, de qualquer categoria, havia sido em 2008, com a Supercopa da UEFA (jogo entre o vencedor da UCL e da atual Liga Europa). E ainda temos o Arsenal, do Alcysio, que está sem títulos desde o "Unbeaten" de 2004. Time grande, sim. Títulos todo ano, não. E nem por isso nós mudamos, ou deixamos de torcer, assim como qualquer outro torcedor do mundo.


         Existe uma infinidade de argumentos para falar, mas o que eu, pessoalmente, gostaria de deixar claro é que Futebol não tem barreiras, e vivemos em um mundo onde o campeonato espanhol, italiano, inglês ou holandês são transmitidos tanto quanto o BR, e a UCL não tem comparação. E geram tanta paixão e tanto amor quanto a arquibancada do estádio. Só é mais doloroso, por que não tem como ver de perto e gritar com a torcida, e, no meu caso, não tem com que dividir o grito de campeão. É a escolha por uma felicidade quase muda, distante. Mas ainda assim, pulsante e de verdade.

2 comentários:

Alcysio Canette Neto disse...

No ponto. Só porque não vejo o arsenal de 15 em 15 dias no estádio não significa que eu não sofra que nem um porco quando perde e em ver jogador sem sangue.

ps. se torcesses pro arsenal, poderia comprar revista não oficial sobre seu clube =p

Unknown disse...

"Futebol não tem barreiras", disse tudo! :D